O tema da redação do Enem deste domingo (09) colocou o envelhecimento no centro das discussões e puxou para o exame um tema que já pressiona políticas públicas, saúde e educação. A escolha acontece no momento em que o Brasil vive uma virada demográfica rápida. Projeções do IBGE indicam que, em 2040, a população com mais de 60 anos deve ultrapassar o número de crianças e adolescentes no país, um marco que exige novas respostas do Estado e da sociedade.
Na avaliação de Letícia Cabrera, professora de língua portuguesa e parceira da UMA Educação, de Fernandópolis, com mais de 30 anos de experiência na região, o tema dá ao estudante a chance de ir além do senso comum. “É um assunto extremamente relevante. Permite ao aluno trabalhar história, filosofia, literatura e questões contemporâneas. Quem acumulou repertório consegue estabelecer analogias sólidas e fugir do senso comum.”
A educadora destaca que o aluno pode recorrer a referências concretas, como o Estatuto do Idoso, criado para garantir proteção e dignidade, mas ainda distante da prática. O texto legal avança em direitos, mas falha na execução, seja pela falta de fiscalização ou pela ausência de políticas permanentes, sobretudo em cidades médias e pequenas.
Outro ponto que aparece como reforço de repertório são as comparações culturais. Letícia lembra que países como o Japão tratam o envelhecimento como símbolo de prestígio e sabedoria, enquanto sociedades ocidentais, como a brasileira, tendem a valorizar juventude e produtividade. Essa diferença abre espaço para análises mais profundas sobre como o país encara o próprio futuro.
No campo filosófico, Simone de Beauvoir segue como referência central. Em A Velhice, a autora afirma que “o homem envelhece como viveu”, síntese que ajuda o estudante a discutir desigualdade, autonomia, cuidado e expectativa de vida.
Com o avanço acelerado do envelhecimento e desafios que já batem à porta das cidades da região, educadores veem no tema do Enem uma oportunidade para que os estudantes articulem dados, repertório e visão crítica. A redação, dizem, reforça a urgência de discutir como o Brasil vai envelhecer e como isso afeta diretamente a vida das próximas gerações.
